Airbnb ou Aluguel Tradicional: O que é mais vantajoso para o proprietário?

Airbnb ou Aluguel Tradicional: Qual é mais vantajoso para o proprietário?

Por: Fernando M Martins

Leitura de 7 min

Bandeira dos EUA em frente a prédios

Airbnb ou aluguel tradicional: o que é mais vantajoso para o proprietário?

Se você tem um imóvel para investir, provavelmente já se perguntou: vale mais a pena alugar por temporada (Airbnb) ou fazer um aluguel tradicional? A resposta curta é: depende do seu objetivo, do perfil do imóvel e da sua disposição para gerir o dia a dia da locação. Neste guia, comparamos modelos, custos, rentabilidade, riscos e tributação para ajudar na decisão.

O objetivo aqui é simples: mostrar, com números e exemplos práticos, quando a locação de curta duração pode se sobressair — e quando o contrato tradicional ainda é o campeão do fluxo de caixa previsível.

Como funciona cada modelo de locação

Locação por temporada (Airbnb e similares)

Aluguel de curta duração, geralmente de 1 a 90 dias, com foco em viajantes, profissionais em trânsito e turismo. O proprietário (ou gestor) cuida de anúncio, fotos, preços, atendimento, limpeza e manutenção. A renda depende de diária média e taxa de ocupação, que variam por cidade, bairro e época do ano.

Aluguel tradicional (longo prazo)

Contrato regido pela Lei do Inquilinato, com prazos mais longos (geralmente 30 meses), reajustes anuais e responsabilidades claras. O inquilino costuma arcar com condomínio e IPTU, e o proprietário recebe mensalmente, com vacância mais rara e menor esforço operacional.

Rentabilidade e taxa de ocupação: contas na ponta do lápis

A lógica é direta: no curto prazo, você tenta maximizar diária média x ocupação. No longo prazo, busca previsibilidade e baixa vacância. Veja como estimar:

  • Receita bruta no Airbnb = diária média x taxa de ocupação x dias do mês.
  • Receita líquida = receita bruta – taxas da plataforma – gestão (se houver) – despesas de operação (contas, reposições, impostos, etc.).
  • Receita líquida no tradicional = aluguel – taxa de administração (se houver) – provisões de vacância/manutenção – impostos.

Como referência de mercado (que varia por cidade e sazonalidade), proprietários costumam relatar taxas de ocupação entre 50% e 75% em áreas centrais e turísticas, com ganhos mais altos em alta temporada e queda significativa em períodos de baixa demanda.

Custos, taxas e impostos: o que não pode sair da conta

Airbnb e temporada

  • Taxa da plataforma: pode variar por modelo de cobrança; em muitos casos, o anfitrião arca com um percentual sobre a reserva.
  • Gestão profissional (opcional): empresas de administração de curta temporada costumam cobrar um percentual da receita.
  • Limpeza e enxoval: custo por estadia; muitos anfitriões repassam parte via taxa de limpeza.
  • Contas e serviços: energia, água, internet, TV a cabo, gás (normalmente pagos pelo proprietário).
  • Manutenção e reposições: pintura, pequenos reparos, itens de cozinha, cama e banho.
  • Impostos: rendimentos entram na declaração do IR (Carnê-Leão no caso de pessoa física). Em alguns municípios, pode haver exigência de cadastro e ISS para hospedagem. Verifique a legislação local e consulte um contador.

Aluguel tradicional

  • Taxa de administração (se usar imobiliária): percentual sobre o aluguel.
  • Vacância e manutenção entre inquilinos: pintura, pequenos ajustes e eventual inadimplência (quando não coberta por garantia).
  • Impostos: aluguéis recebidos por pessoa física são tributados via Carnê-Leão pela tabela progressiva, com possibilidade de abatimento de despesas como taxa de administração e IPTU pagos pelo locador.
  • Condomínio e IPTU: via de regra, pagos pelo inquilino, conforme contrato.

Gestão, tempo e esforço: qual é a sua disponibilidade?

No Airbnb, a gestão é parte central do resultado. Responder mensagens rápido, ajustar preço dinâmico, cuidar de check-in/out e manter avaliações altas impacta a ocupação e a diária média. Se você não quer ou não pode dedicar tempo, a gestão terceirizada ajuda — mas reduz a margem.

No aluguel tradicional, após a locação, a rotina tende a ser mais leve, com contatos pontuais para manutenção, reajustes e renovações contratuais.

Riscos, vacância e sazonalidade

  • Sazonalidade (Airbnb): demanda flutua com eventos, férias e clima. Reserve uma margem de segurança para meses fracos.
  • Inadimplência (tradicional): mitigada por garantias como seguro-fiança, caução ou fiador.
  • Desgaste do imóvel (Airbnb): maior rotatividade implica mais vistoria, limpeza e reposição.
  • Vacância: no tradicional, tende a ser menor, mas a cada troca pode haver um período vazio para reformas e novas visitas.

Regulamentação e condomínio: atenção às regras

Alguns municípios exigem cadastro para hospedagem e podem aplicar regras específicas. Condomínios também podem impor restrições a locações de curta duração em suas convenções internas. Antes de anunciar, confirme:

  • Se a convenção condominial permite aluguel por temporada.
  • Se há exigência municipal (cadastros, alvarás, ISS).
  • Regras de segurança, identificação de hóspedes e circulação nas áreas comuns.

Perfil do imóvel e localização: onde cada modelo brilha

  • Airbnb tende a performar melhor em regiões turísticas, próximas a polos corporativos, hospitais, centros de eventos e estações de transporte.
  • Aluguel tradicional tem boa saída em bairros residenciais, próximos a escolas, parques e comércio, com demanda estável por famílias e estudantes.
  • Imóveis compactos e bem mobiliados costumam ter alta liquidez no curto prazo; unidades maiores tendem a se favorecer do longo prazo.

Exemplo prático: simulação comparativa

Considere um apartamento de 45 m², bem localizado, valor de mercado de R$ 500.000.

Cenário A — Airbnb (gestão própria)

  • Diária média estimada: R$ 250
  • Ocupação média: 65% (aprox. 19,5 noites/mês)
  • Receita bruta: 30 x 250 x 0,65 = R$ 4.875
  • Taxa da plataforma (exemplo): 14% = R$ 682,50
  • Contas e serviços (energia, água, internet): R$ 400
  • Condomínio: R$ 700
  • IPTU (média mensal): R$ 150
  • Reposições/manutenção: R$ 200
  • Limpeza: supondo repasse ao hóspede via taxa de limpeza

Receita líquida estimada: 4.875 – 682,50 – (400 + 700 + 150 + 200) = R$ 2.742,50/mês (antes de IR).

Rentabilidade anual aproximada: 2.742,50 x 12 = R$ 32.910 ⇒ 6,6% a.a. sobre R$ 500 mil (sem considerar sazonalidade e IR).

Cenário B — Airbnb (com gestão terceirizada)

  • Gestão: 20% sobre a receita bruta = R$ 975

Receita líquida estimada: 4.875 – 682,50 – 975 – (400 + 700 + 150 + 200) = R$ 1.767,50/mês (antes de IR).

Rentabilidade anual aproximada: 1.767,50 x 12 = R$ 21.210 ⇒ 4,2% a.a..

Cenário C — Aluguel tradicional

  • Aluguel de mercado: R$ 3.000
  • Taxa de administração (imobiliária): 10% = R$ 300
  • Vacância: provisão de 1 mês a cada 24 meses ≈ R$ 125/mês
  • Manutenção entre inquilinos (pintura e ajustes): ≈ R$ 83/mês
  • Condomínio/IPTU: pagos pelo inquilino (conforme contrato)

Base antes de IR: 3.000 – 300 – 125 – 83 = R$ 2.492/mês

IRPF (alíquota efetiva varia por faixa e deduções): exemplo de ~12% sobre base tributável após deduções = ≈ R$ 297

Receita líquida estimada: 2.492 – 297 = R$ 2.195/mês

Rentabilidade anual aproximada: 2.195 x 12 = R$ 26.340 ⇒ 5,3% a.a..

O que a simulação mostra

  • Com boa ocupação e gestão própria, o Airbnb pode superar o tradicional.
  • Com gestão terceirizada, a margem cai e pode ficar abaixo do longo prazo.
  • A sazonalidade pode reduzir a ocupação média; simule cenários com 55%, 60% e 70% para avaliar riscos.

Importante: números mudam com cidade, prédio, fotos, avaliações e preço. Use a simulação como ponto de partida e ajuste aos seus dados reais.

Quando o Airbnb pode valer mais a pena

  • Imóvel em área com alta demanda turística ou corporativa (eventos, hospitais, centros de tecnologia).
  • Você tem tempo e perfil para gestão ativa, ou consegue uma gestora eficiente com custo competitivo.
  • Unidade compacta, mobiliada e fotogênica, com boa iluminação, wi-fi rápido e vaga de garagem.
  • Condomínio permite temporada e a cidade não impõe barreiras relevantes.
  • Você deseja flexibilidade para usar o imóvel em datas específicas.

Quando o aluguel tradicional pode valer mais a pena

  • Busca previsibilidade de renda e menor envolvimento na operação.
  • Imóvel em bairro residencial, com demanda estável de famílias/estudantes.
  • Condomínio ou legislação restringem a locação de curta duração.
  • Você não pretende investir em mobiliário completo e enxoval.
  • Prefere menor rotatividade e desgaste do imóvel.

Dicas práticas para decidir com segurança

  1. Pesquise a diária e a ocupação em imóveis comparáveis: observe plataformas, avaliações, calendários e preços ao longo do ano.
  2. Monte uma planilha com três cenários de ocupação (conservador, base e otimista) e inclua todos os custos, inclusive provisões.
  3. Teste por 90 a 180 dias: comece no curto prazo e avalie seus números reais antes de cravar a estratégia.
  4. Invista em fotos e descrição: no Airbnb, isso impacta diretamente a taxa de cliques e a ocupação.
  5. Padronize processos: check-list de limpeza, manutenção preventiva, comunicação e respostas rápidas.
  6. Consulte o condomínio e a prefeitura: confirme regras e cadastros necessários.
  7. Converse com um contador: entenda IR, possíveis exigências locais e o que pode ser deduzido.

Como calcular sua rentabilidade líquida

Use uma fórmula simples:

Rentabilidade líquida (%) = [(Receita líquida anual) ÷ (Valor do imóvel + investimento em mobília)] x 100

Inclua no investimento o que foi gasto para mobiliar, decorar e equipar o imóvel, além de eventuais reformas.

Erros comuns que derrubam resultados

  • Subestimar custos (reposições, lavanderia, upgrades de enxoval).
  • Ignorar sazonalidade e não provisionar meses fracos.
  • Preço mal calibrado: diária alta demais derruba ocupação; baixa demais corrói margem.
  • Fotos ruins e anúncio incompleto: menos cliques, menos reservas.
  • Respostas lentas e avaliações medianas: o algoritmo prioriza anúncios com melhor performance.

FAQ rápido

Preciso de CNPJ para alugar por temporada?

Não obrigatoriamente. Pessoas físicas podem alugar e recolher IR via Carnê-Leão. Dependendo da cidade, pode haver exigências específicas para atividade de hospedagem. Verifique a legislação local e avalie com um contador se o uso de CNPJ faz sentido no seu caso.

O condomínio pode proibir Airbnb?

Condomínios podem estabelecer regras na convenção, inclusive restringir locações de curta duração. Consulte a convenção e as atas de assembleia.

Quem paga danos causados por hóspedes?

O anfitrião responde pelos danos e pode buscar ressarcimento conforme regras da plataforma e do contrato. Tenha inventário do enxoval e registros fotográficos a cada estadia.

Limpeza entra como custo do proprietário?

Muitos anfitriões repassam a taxa de limpeza ao hóspede. Ainda assim, considere uma provisão para lavanderia, reposições e upgrades do enxoval.

Conclusão: qual estratégia escolher?

Se você busca renda potencialmente maior, tem um imóvel no lugar certo e está disposto a investir tempo (ou a pagar por boa gestão), o Airbnb pode entregar uma rentabilidade superior. Se o que você mais valoriza é previsibilidade, simplicidade e menor envolvimento, o aluguel tradicional permanece uma ótima escolha.

Próximo passo: faça sua simulação com seus números reais, verifique regras do condomínio e da prefeitura e converse com um contador para ajustar a tributação. A partir daí, teste — e deixe que os resultados indiquem o caminho.