Financiamento imobiliário sem surpresas: como escolher banco, taxa e prazo ideais
Financiamento imobiliário sem surpresas: taxa e prazo

Por: Fernando M Martins
Leitura de 7 min

Financiamento imobiliário sem surpresas: como escolher banco, taxa e prazo ideais
Comprar um imóvel com financiamento pode ser simples quando você entende as regras do jogo. Neste guia prático, você vai comparar SAC e PRICE, destrinchar o CET, avaliar taxa, indexador, prazo, planejar entrada, seguros e simular parcelas com segurança — passo a passo.
O que é financiamento imobiliário e como funciona
No financiamento, o banco empresta parte do valor do imóvel e você paga em parcelas mensais que incluem amortização (devolução do principal) e juros. O contrato define taxa, indexador, prazo, sistema de amortização e seguros obrigatórios. O imóvel fica alienado como garantia até a quitação.
- SFH x SFI: No SFH (Sistema Financeiro da Habitação) há limites de valor e regras de FGTS; no SFI (Sistema Financeiro Imobiliário) as condições são mais livres.
- Comprometimento de renda: a parcela geralmente não deve exceder 30% da renda familiar comprovada.
- Entrada: costuma variar de 10% a 30% (no SFH, até 80% de financiamento é a prática mais comum).
Como escolher o banco: o que realmente comparar
Não é só a taxa “do comercial” que importa. A decisão deve considerar o CET e o conjunto de condições de crédito.
- CET (Custo Efetivo Total): agrega juros, seguros (MIP e DFI), tarifas e tributos como IOF quando aplicável. É o melhor número para comparar propostas. Custos externos ao crédito (ex.: ITBI e registro em cartório) normalmente não entram no CET se pagos à parte.
- Taxa e indexador: TR, IPCA, poupança ou taxa fixa. Compare cenários de curto e longo prazo.
- Sistema de amortização: SAC reduz parcelas com o tempo; PRICE mantém parcelas constantes no começo, mas pode custar mais no total.
- Prazo: prazos maiores reduzem a parcela e aumentam o total de juros. Avalie o equilíbrio entre conforto e custo.
- Flexibilidade: regras para amortização extraordinária (reduzir prazo ou parcela), portabilidade e reanálise de taxa.
- Atendimento e prazos de aprovação: qualidade na avaliação do cadastro, rapidez em laudos e análise jurídica.
Dica: pegue propostas formais com CET anual e as mesmas premissas (valor do imóvel, entrada, prazo, sistema, seguros e indexador). Se as premissas mudarem, a comparação perde validade.
Taxa de juros, indexadores e prazo: como decidir
A taxa define o custo do dinheiro. O indexador dita como essa taxa se comporta ao longo do tempo.
Principais indexadores
- TR (Taxa Referencial): tem sido baixa por longos períodos, oferecendo mais previsibilidade para o orçamento. É a opção mais comum no SFH.
- IPCA: vincula a prestação à inflação. Pode começar atrativa, mas varia com o cenário inflacionário. Exige folga no orçamento.
- Poupança: acompanha a remuneração da poupança, que depende da Selic. Pode cair quando a Selic cai — e subir quando a Selic sobe.
- Taxa fixa: menos comum em prazos longos; oferece previsibilidade total, mas pode ser mais alta dependendo do ciclo de juros.
Como escolher o prazo
- Prazos maiores (ex.: 30-35 anos) reduzem a parcela e facilitam aprovação, mas aumentam o custo total.
- Prazos menores reduzem juros totais, mas exigem renda mais alta. Você pode começar com prazo maior e amortizar para encurtar depois.
Regra prática: escolha o menor prazo que caiba confortável no orçamento (com margem para oscilações de renda e despesas variáveis). Mantenha uma reserva de emergência de 6 a 12 meses de parcelas.
SAC x PRICE: qual sistema de amortização escolher
SAC (Sistema de Amortização Constante) e PRICE (Tabela Price) calculam as parcelas de forma diferente.
Como cada um funciona
- SAC: a amortização é constante. As parcelas começam mais altas e diminuem ao longo do tempo.
- PRICE: as parcelas são constantes no início, com maior peso de juros nas primeiras prestações.
Exemplo numérico ilustrativo
Considere financiamento de R$ 300.000 por 360 meses, taxa mensal aproximada de 0,79% (cerca de 9,5% a.a. nominais), sem considerar seguros e tarifas:
- SAC: amortização mensal ≈ R$ 833,33. Primeira parcela ≈ R$ 3.208,33; última ≈ R$ 840,00. Total pago estimado ≈ R$ 728.640.
- PRICE: parcela constante ≈ R$ 2.524. Total pago estimado ≈ R$ 908.640.
Valores aproximados e apenas para fins didáticos. O CET com seguros e tarifas altera os resultados.
Vantagens e cuidados
- SAC: prós
- Reduz mais rápido o saldo devedor.
- Geralmente menor custo total de juros.
- Facilita amortizações e portabilidade.
Contra: parcela inicial mais alta.
- PRICE: prós
- Parcela inicial menor e constante.
- Ajuda a encaixar no orçamento de curto prazo.
Contra: custo total de juros geralmente maior; amortização mais lenta no início.
Escolha prática: se o objetivo é pagar menos juros e você tem folga de caixa, SAC tende a ser melhor. Se precisa de previsibilidade imediata e parcela menor no começo, PRICE pode ajudar — mas monitore oportunidades de portabilidade no futuro.
CET desvendado: o número que manda na comparação
O CET (Custo Efetivo Total) é a taxa anual que representa tudo o que você paga para obter o crédito, diluído no tempo. Ele inclui:
- Juros do contrato.
- Seguros obrigatórios: MIP (Morte e Invalidez Permanente) e DFI (Danos Físicos ao Imóvel).
- Tarifas e custos do financiamento que o banco cobra (ex.: avaliação, administração).
- Tributos aplicáveis (ex.: IOF, quando houver).
Normalmente não entram no CET custos fora do contrato de crédito (ex.: ITBI, registro e escritura pagos diretamente a cartórios e prefeitura), a menos que sejam financiados e informados no cálculo. Para comparar propostas, use sempre o CET com as mesmas premissas.
Score de crédito, renda e aprovação: como melhorar
Seu score e seu histórico de pagamentos influenciam taxa, limite e aprovação. Pontos práticos:
- Pague contas em dia e reduza o uso rotativo do cartão.
- Evite consultas em excesso ao CPF em curto período.
- Atualize cadastro em birôs de crédito e autorize Cadastro Positivo.
- Organize comprovantes de renda: holerites, extratos, IRPF, pró-labore, contratos.
- Regularize eventuais pendências (protestos, dívidas vencidas) antes de enviar a proposta.
Documentos básicos: RG, CPF, comprovante de estado civil, comprovantes de renda e residência, declaração de IR, extratos bancários, documentos do imóvel e do vendedor, certidões negativas conforme exigência.
Entrada, FGTS e LTV: quanto dar de entrada
A entrada reduz o valor financiado e os juros totais. O banco avalia o LTV (Loan-to-Value), relação entre financiamento e valor do imóvel.
- Entrada de 20% a 30% costuma oferecer equilíbrio entre aprovação e custo total.
- FGTS: pode ser usado para entrada, amortização e pagamento de parte das parcelas (regras variam conforme programa e localização do imóvel).
- Reserve recursos para custos de aquisição (ITBI, cartório, laudo, mudança). Em geral, calcule 2% a 5% do valor do imóvel para esses itens, variando por município e estado.
Equilíbrio financeiro: não zere a reserva para ampliar a entrada. Uma margem de segurança reduz o risco de inadimplência e protege seu orçamento.
Seguros obrigatórios: MIP e DFI
Os seguros são exigidos para proteger você e o banco durante o contrato.
- MIP (Morte e Invalidez Permanente): quita total ou parcialmente o saldo devedor em caso de sinistro coberto.
- DFI (Danos Físicos ao Imóvel): cobre danos estruturais causados por eventos como incêndio e vendaval, conforme apólice.
O prêmio dos seguros varia por idade, profissão, perfil de risco e valor do imóvel/financiamento. Eles compõem o CET, por isso compare propostas com o mesmo perfil cadastral.
Custos adicionais e impostos
Além das parcelas, planeje os custos de aquisição:
- ITBI: imposto municipal para transferência de propriedade (alíquota varia por cidade).
- Cartório: escritura, registro e certidões.
- Laudo de avaliação do imóvel.
- IOF (quando aplicável ao crédito) e tarifas bancárias.
Em muitos cenários, 2% a 5% do valor do imóvel cobrem a maioria desses itens, mas verifique as alíquotas e tabelas locais.
Como simular parcelas com segurança
Simular corretamente evita frustrações na hora da contratação. Siga este roteiro:
- Defina valor do imóvel, entrada, prazo, sistema (SAC ou PRICE) e indexador.
- Use a mesma taxa de juros e mesmas premissas para comparar bancos. O ideal é trabalhar com o CET.
- Inclua seguros (MIP/DFI) e tarifas na simulação. Eles mudam o valor da parcela.
- Projeção conservadora: teste cenários de estresse (ex.: inflação/juros maiores em contratos indexados).
- Cheque o comprometimento de renda (alvo: até 30%).
- Simule amortizações anuais com 13º/bonificações para ver a economia de juros ao reduzir o prazo.
Miniestudo: simulando o impacto da entrada e do prazo
Exemplo ilustrativo (sem seguros/taxas):
- Imóvel: R$ 500.000
- Entrada: 20% (R$ 100.000) → financiamento R$ 400.000
- Taxa: 0,79% ao mês (≈9,5% a.a. nominal)
- Prazo: 360 meses
SAC: primeira parcela ≈ R$ 4.277; última ≈ R$ 1.120; total pago estimado ≈ R$ 971.520. Se aumentar a entrada para 30% (R$ 150.000), o financiamento cai para R$ 350.000 e o total estimado reduz na mesma proporção.
PRICE: parcela constante ≈ R$ 3.366; total pago estimado ≈ R$ 1.211.760.
Valores aproximados, sem seguros/tarifas. O CET altera as parcelas; use propostas formais para cotações reais.
Checklist da simulação segura:
- Compare sempre por CET e com as mesmas premissas.
- Inclua seguros e tarifas.
- Teste cenários de alta de juros/inflação (se indexado).
- Verifique a margem no orçamento e mantenha reserva.
Erros comuns a evitar
- Comparar bancos apenas pela taxa nominal, ignorando o CET.
- Assumir parcela no limite da renda, sem folga para imprevistos.
- Subestimar custos de ITBI, registro e mudança.
- Negligenciar seguros e suas variações por idade/perfil.
- Não planejar amortizações para reduzir juros no longo prazo.
- Assinar contrato sem ler cláusulas de portabilidade e amortização.
Boas práticas para pagar menos e dormir tranquilo
- Busque pré-aprovação para entender limites, taxa estimada e prazo.
- Tenha ao menos 6 a 12 meses de parcelas em reserva.
- Prefira SAC se possível e planeje amortizações periódicas para encurtar o prazo.
- Monitore o mercado para avaliar portabilidade quando as taxas caírem.
- Use FGTS estrategicamente (entrada e amortizações dentro das regras).
- Negocie seguros: conheça coberturas e custos; entenda como impactam o CET.
Perguntas essenciais para fazer ao gerente
- Qual é o CET anual do contrato? O que está incluído?
- Qual o indexador e como a parcela pode variar?
- Posso amortizar sem custo extra? É melhor reduzir prazo ou parcela?
- Como funciona a portabilidade em caso de queda de juros?
- Quais são as condições dos seguros (MIP e DFI)?
- Prazo de análise, laudo e desembolso? O imóvel escolhido atende às regras do sistema (SFH/SFI)?
Checklist final: contrato sem surpresas
- Propostas comparadas por CET, com mesmas premissas.
- Entrada definida sem comprometer a reserva.
- Prazo adequado ao orçamento, com plano de amortizações.
- Sistema escolhido (SAC/PRICE) alinhado ao seu perfil.
- Seguros revisados: coberturas, custo e impacto no CET.
- Custos de ITBI e cartório provisionados.
- Cláusulas de portabilidade e amortização confirmadas.
- Documentação pessoal e do imóvel conferida.
Conclusão: sua decisão, no seu tempo
Financiar um imóvel não precisa ser um labirinto. Quando você olha para o CET, entende SAC x PRICE, escolhe indexador e prazo com calma e simula cenários de forma realista, a compra fica mais segura. Dê o próximo passo: reúna suas propostas, rode as simulações com as mesmas premissas e escolha o contrato que cabe no seu hoje — com espaço para os planos de amanhã.
Se ficou com dúvida em algum ponto, volte aos checklists deste guia e marque suas respostas. Sua assinatura deve vir com informação, não com susto.
Larvista